Vida acadêmica: Ser ou não ser?

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Quando eu era criança e a professora me perguntou sobre o que eu queria ser quando crescesse, eu disse que gostaria de ser pintora, desenhista, ou escritora, porque gostava de criar coisas para que despertassem emoções em outras pessoas e as fizessem refletir sobre algo. O tempo correu muito rápido, as catástrofes familiares, a imaturidade, a necessidade, afastaram-me por um tempo do mundo do conhecimento. O meu pai gostava de livros, mas em casa, havia poucos exemplares, como compêndios de literatura e livros sobre sexologia que foram ultrapassados há décadas. Sempre fui tímida, e ir até uma biblioteca pública, por exemplo, significava  cruzar o deserto até o inferno de Dante. Não li tudo o que deveria e gostaria, não li os filósofos, só ouvi falar. Apesar de tudo, sinto-me feliz por ter sido a primeira pessoa das famílias materna e paterna a ter entrado em uma universidade. Entrei já casada e com filho pequeno, fui fazer Letras porque gostava de escrever, mas o choque foi grande e me decepcionei com o curso. Novamente, não li tudo o que deveria e gostaria, tudo era confuso e complicado, como se eu tivesse entrado em um teatro no meio de "Vestido de noiva". No tumulto de minha vida, fui desligada no ultimo período por não ter renovado matricula (na época, precisávamos enfrentar uma fila quilométrica para fazer a pré matricula e depois, a matricula), o meu mundo caiu. Depois de algum tempo, fiz novamente o vestibular e passei. A minha vida estava ainda mais tumultuada, emocionalmente desestabilizada, sem base teórica. Tentei literatura, mas não me sentia preparada, fui para a tradução. Gostei, defendi, finalmente, me formei. Escrevi um projeto para o mestrado e cá estou eu.

Dúvidas... Não sei se fui feita para o mundo acadêmico, cheio de regras de ABNT  e de chatice de citação. O que vejo é um desfile de vaidades sem nenhuma descoberta ou inovação, um monte de gente falando a mesma coisa. Não suporto a obrigação de se "produzir" artigos, fabricar textos de colagens para engordar Lattes de lixo repetitivo. Não suporto a obrigação de ter que frequentar rodinhas sociais dos "escolhidos", apresentar qualquer coisa em congressos, feiras, seminários, feitos para discutir as polêmicas de sempre e apresentar pouquíssimas novidades, para constar, de novo,  no Lattes.

Sim, não posso generalizar ou desqualificar a maioria dos mestres e doutores, que trabalham duro e possuem um vasto conhecimento em suas áreas, nem negar que, sem eles, não haveria progresso, seja lá o que possa ser considerado progresso. O problema é comigo, sobre mim e esse universo de gigantes do Olimpo, do qual eu não tenho certeza se quero ou se estou preparada para participar. 

Tenho 40. Meia vida, considerando a hipótese de vida até os 80. Na melhor das alternativas, já vivi a metade de minha sina. Quais as minhas pretensões nessa altura do campeonato?

Eu sonhei em ser uma grande atriz de Hollywood, mas a experiência me fez sentir idiota e ter pavor de sonhar com os Estados Unidos. Sonhei, também, em ser uma grande atriz brasileira, mas o tempo passou e fiquei velha para iniciar nas telas e tinha dois filhos para levar. Sonhei em mudar o mundo, mas nenhum desses malucos conseguiram, Gandhi, Che, Marx, muito menos Jesus, recolho-me à minha insignificância. Já aceitei, não vou ser grande na história mundial, talvez possa ser grande na minha pequena historia. Já é muito.

Bem, Estou em rumo ao desconhecido. A situação do Brasil é pior do que poderia imaginar há alguns anos atrás, parece que entramos no Trem do Terror do parque de diversões, que se transformou na Caverna do Dragão com loopings desanimadores. Andamos às cegas, tateando e procurando um porto seguro, sem ter mais ideais em vista. Sim, ainda sonho em um dia, quem sabe, ser escritora, embora saiba que isso não me levará ao sucesso, considerando o mercado atual e o cenário onde os livros são comprados em metro para decorar casas de gente importante que nunca precisou ler livros. Então, que bosta!

Talvez eu devesse aprender a tática de escrever livrinhos de autoajuda, de historinhas inspiradoras e românticas e colocar o nome de "O caçador de alguma coisa", "A mulher que faz algo", ou "Florescência", sei lá. Deveria começar a fazer muitas piadas ou a xingar no YouTube, ou montar blogs cheios de propagandas e noticias falsas.Talvez eu devesse ganhar na Mega-Sena, e passar os 40 anos viajando pelas terras dos livros de história. É, com certeza, eu deveria ganhar na Mega-Sena.

Mas, como ganhar na Mega-Sena é algo de outro planeta, vou ter que me virar com o que tenho.  Estou no mestrado, algo inimaginável há alguns anos. Não é nem um pouco fácil passar, mas passei e devo honrar o meu lugar. Não me sinto plenamente preparada, mas vou ficar. E seja o que tiver de ser, pois nenhum passo é em falso nessa vida, desde que não fiquemos no mesmo chão. Espero chegar em um bom lugar, em breve. Antes dos meus 80. Com, ou sem ABNT!

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