Coisas de Ouro Preto: Senhor Jair - O homem da palavra


Quando trabalhei na Secretaria de Assistência Social, lá encontrei um senhor chamado Jair, ele era faxineiro, um faz tudo do lugar. Eu o cumprimentava, de vez enquanto trocava algumas palavras, mas nunca paramos para conversar. Passado algum tempo, o senhor Jair saiu da Secretaria e algumas vezes eu o via sentado na porta do cinema ou ali nas redondezas. De vez em quando parava pra conversar e ele me contava longos casos, alguns eu entendia, outros nem tanto, mas lhe dava atenção. Eu falava quase nada, o meu papel era o de ouvinte.

Um dia eu comentei que havia passado no concurso em primeiro lugar, mas  que eles ainda não tinham me chamado e isso estava me deixando muito chateada. O seu Jair disse: _ Não se preocupa não, em janeiro eles vão lhe chamar! _ E não é que me chamaram mesmo!

As histórias que o senhor Jair mais gosta de contar é sobre o seu dom mediúnico, suas capacidades de prever as coisas e de pressentir. Eu fiquei pensando no que ele havia dito, mas deixei pra lá, devia ser mais uma coincidência. 

Hoje, eu estava passando na rua São José e o seu Jair estava lá. Eu o cumprimentei, ele pegou a minha mão, e começou com os papos. Depois ele me disse que a primeira vez que me viu, ele pensou que eu era uma pessoa muito simples, mas era muito indecisa e que tinha muitas e muitas dúvidas, então ele quis se aproximar de mim para me ajudar, mas não quis me falar sobre isso antes. Depois disse que eu tinha que cuidar do meu jardim. Perguntei o que ele queria dizer, ele disse:

_ Todo o dia, se tiver algum problema, se alguém te aborrecer, deixa nas mãos de Deus, não vá dormir com isso, senão, na manhã seguinte, toma café com gosto de ontem. Para de reclamar das coisas, não ligue muito para as coisinhas, cuida do seu jardim.

Eu fiquei meio comovida, por que nunca falei nada da minha vida pra ele. Mas, aquele recado poderia caber a qualquer um. Ele continuou:

_ Fique com a cabeça nas nuvens, mas coloque os pés no chão! Crava os pés no chão e continue a caminhada. Tire a cabeça das nuvens!

Aquilo fez muito sentido neste momento, me senti emocionada. Seja vidente ou apenas um grande observador das características humanas, aquele senhor me falou palavras importantíssimas naquele momento. Falava e me olhava com aqueles olhos verdes, que ficavam azuis ou castanhos, de acordo com o seu humor, segundo ele próprio.

Fez sentido para mim, e eu, que sempre fui uma pessoa totalmente cética, estou me descobrindo cada vez mais e mais mística. Obrigada, senhor Jair.


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