Menina má



No ano 33 depois de Cristo, eu peguei a maior pedra, a mais pontiaguda que encontrei e joguei na testa do cristo, numa de minhas encarnações;

em outra, botei fogo na biblioteca de Alexandria e sai dando altas gargalhadas na cara daqueles palhaços;

em outra vida eu chicoteei os escravos e arranquei-lhes os dentes com alicates;

na inquisição, queimei muitas mulheres inocentes em nome de Deus e as submeti as mais tenebrosas torturas;

fui eu quem falou para Hitler sobre a teoria da proto-língua, eu também estava lá, queimando milhares de judeus;

eu fui um dos idealizadores dos testes nucleares, especialmente em Hiroshima;

também já queimei inúmeras formigas com lentes de aumento e deixei muitas crianças ajoelhadas nos grãos de milho.

Devo ter sido muito má em todas as outras vidas, fui a pior. Devo ter escaldado muitos cães sarnentos e espancado mendigos. Roubei as amêndoas das crianças na Semana Santa! Peguei o dinheiro das oferendas. Eu fui má, muito má.

Eu fui terrível, eu sei. Fui má.

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