Sou mãe de "Vidas Secas"


Eu não sou mãe de Margarina, sou de Vidas Secas, por que minha vida sofreu de secura adocicada, de proteção com agruras e assim me tornei, agridoce.  Desde cedo aprendi a controlar o meu choro para não deixar que se derramassem todas as minhas fraquezas diante dos inimigos e dos amigos, e sofri  afogamento. Afoguei-me tantas vezes, que o meu peito parecia explodir, estufado com tantas amarguras, tristezas e alegrias contidas, espremiam o coração. A rudeza da minha verdade pareceu mais seca que o agreste, mas edificava obras reais nos corações, não castelos de areia ou paraísos utópicos. Assim sou mãe.

Sou a mãe que se preocupa se a comida vai dar, se a luz irá se acender, se o caderno acabou. Sou mãe que não promete, diz que vai pensar, mas se der, é sim. Sou mãe que quer que os filhos voem, com suas próprias asas, e que aprendam a economizar os seus lápis, porque custam dinheiro e recursos, e que na vida real, se não cuidarmos de nossas coisas, não virá alguém para nos repor a todo momento. Sou mãe que diz a verdade, mesmo que seja tabu, por que contra fatos, não há argumentos. Sou mãe que pratica a maldade de exigir que o filho enfrente as consequências de seus atos, que limpe sua sujeira e que aprenda que ninguém é seu escravo. Não sou mãe de "I love you, Barney", eu sou mãe de, vá em frente e enfrente!

Faltam-me beijinhos nas bochechas, talvez abraços, e "eu te amo". Falta-me abrir o meu peito e deixar sair tudo o que está enterrado desde a infância, e que me sufoca, mas rasgar o peito de uma vez não é nada fácil. Falta-me um pouco mais de açúcar e pimenta. Não que não os tenha em estoque, mas por que habituei-me a outros sabores. Mas não faltam-me o compromisso, a presença, a orientação e o incentivo. Não falta-me o amor, mesmo que em linhas tortas.

Eu sou mãe. Não por vocação, talvez por acidente ou escolha. Sou mãe que, uma vez sendo, não foge da raia. Sou mãe que sabe que talvez ser não seja o suficiente e que talvez o trabalho realizado também não seja. Sei que posso não ser compreendida ou aceita, sei que talvez não seja a mãe ideal. Mas sou essa mãe. Uma mãe real do dia dia, das agruras, das doçuras, das dores e dos bonecos e deveres de escola. Sou mãe que só quer contribuir, mas que não aceita ser menos que mãe.


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