Um dia de carnaval em Ouro Preto


No meio dos foliões, um casal estranho tentava sincronizar os passos de dança. Ele, ligeiramente mais baixo, ela, aparentemente, não era de baladas. Ele também não tinha lá o samba no pé, os dois tentavam estar íntimos sem intimidade. Ele a abraçou pelas costas e suas mãos deslizaram lentamente para os seios dela. De repente, ela saiu apressada e ele saiu atrás, desengonçado, como se a não quisesse perder. Depois de alguns minutos, lá estava ele, sozinho, dançando em seu desengonçar. O povo cantarolava as marchinhas, o frevo, pulava, se embriagava, se esquecia. Uns brincavam com os apetrechos dos outros, tiravam selfies da alegria, tiravam fotos com os mais engraçados. Mais adiante, um menino franzino correu atrás de uma adolescente e a segurou pelo braço, lascou-lhe um beijo. Ela correspondeu, e nenhum viu sequer o rosto do outro. Findo o curto êxtase, a menina correu e o menino saiu saltitante e risonho. Comi dois sanduíches de pernil, com pão velho, mas recheio bom, o mais em conta. Pulei com Eva, cantei Tempo Perdido, dancei Zé Ramalho e sambei pagode. Beijei o meu amado, ri com o amigo. Adiante, onde a muvuca se concentra nos shows, a "solitária de Ouro Preto" recebeu a atenção de um folião animado, nunca vi sorriso mais largo! Estava só. Um cantor de reggae com violão de papel chamava a atenção e ouvia os gritos de "toca Raul"! Uma banda cantou com a barriga, não seguiu os padrões impostos. Alguns se perdiam, outros se achavam. As fantasias, antes abundantes, eram raras. As cores bregas dos abadares dominavam os espaços, nosso tempo. A caipifruta estava a dez reais, não vi ninguém tomando. Bons tempos, os velhos.

Gente que nunca sai, saiu, gente que nunca dança, dançou, gente que sempre esteve em si, foi para fora. Os pés não se cansaram, o corpo não se abateu e o êxtase coletivo durou até sabe lá quando, Porque eu fui dormir. Esse foi o meu último dia de carnaval de 2017 em Ouro Preto, com amor, carinho e alegria.

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