A ciranda do Facebook




Eu passei uns cinco anos da minha vida conectada, a maior parte do tempo. Inventava de fazer vídeos, ficava discutindo sobre política e religião com as pessoas, me indignava com opiniões radicais, conversava com dez pessoas ao mesmo tempo, via vídeos de todos os tipos, ria dos memes, criava memes, criava grupos, e assim, os meus dias se escorriam pelos meus dedos enquanto eu vivia uma vida sentada em frente a uma tela de computador. Quais são as minhas lembranças desses dias? Não as tenho. Parece que esses anos foram apagados de minha existência, nada fiz, nada vivi e não me lembro sequer do que aconteceu na internet. Fiquei um tempo deprimida, reclusa, afastada de tudo e de todos. Mesmo quando estava com as pessoas, queria estar ali, conectada, e muitas vezes, ficava.

É impossível viver sem a internet, lá estão quase todas as informações das quais precisamos, mesmo que possua 100 vezes mais informações falsas e informações das quais não precisamos. A internet nos serve, ou nós servimos à internet? Pergunta clichê, mas importante e que merece reflexão.

Já falei inúmeras vezes sobre as redes sociais e de como elas me irritam profundamente, pois sei bem o que elas fazem com um ser, especialmente com os carentes ou com os que não tem controle sobre seus impulsos. Toda a vez que entro no Facebook, eu sinto mais raiva e desejo de agir exatamente como as pessoas que estão lá, postando suas vidas, tenho vontade de dizer um monte de besteiras também. Quando dou uma olhadela pelas postagens de conhecidos,e, especialmente, de pessoas que não estão em meus contatos (Não sejamos hipócritas, a maioria das pessoas usa o Facebook para ficar sabendo sobre os outros), eu sinto ânsia de vômito. 

O Facebook se tornou um outdoor para que façamos propagandas de nós mesmos, a fim de convencer a todos e a nós de como somos exemplos de seres humanos. São textos enormes de pessoas falando sobre seu amor pela família, de seus atos de caridade, pessoas que nunca tomaram conta de suas próprias vidas. São pessoas que querem forçar o público a acreditar que suas vidas são perfeitas e que vivem um eterno romance. Pessoas que querem mostrar momentos de glamour, pessoas que querem provocar o ex, pessoas que querem falar o que não tem coragem de falar diretamente, pessoas que sentem falta de algo e procuram preencher com likes de outros que não fazem nenhuma diferença em suas existências. Pessoas que, quando algo importante acontece, preferem ficar discutindo com desconhecidos, reclamando na internet, que dividir com a família, pessoas que estão em um momento especial, mas perdem minutos para tirar fotos e mostrar para o mundo que estão nesse momento especial, pessoas que perdem a oportunidade de confortar quem está perto, para noticiar as tragédias para os outros que estão longe. Momentos que não farão parte da memória dos que estavam online, mas que farão, com certeza, parte da memória dos que estavam presentes com os ausentes.

Hoje, eu também luto contra a minha vontade de me conectar apenas por pensar que não tenha nada de interessante para fazer, e, conectando, perco a chance de criar algo e viver de verdade. Não me ausento da internet, mas busco capturar dela o que seja necessário. 

Para mim, o maior problema das redes sociais, em especial o Facebook (guardem o que digo, esse Zuckerberg tem planos malignos de dominar o mundo), e que interfere nos relacionamentos humanos próximos e reais, além de se tratar da maneira como você age e permite que as pessoas ajam em relação a você, é o tempo gasto e a necessidade que se tem de estar conectado. O tempo gasto: tempo que poderia ser produtivo, tempo que poderia ser aproveitado com as pessoas que estão presentes, gasto em planos, em ações; a necessidade: a falta de sossego e de paciência para estar na vida real por inteiro, a preocupação constante de se estar conectado na bosta do Facebook. O mal não é (ainda) o Facebook, mas o uso que fazemos dele, como nos relacionamos nele e com ele, e a importância que ele tem em nossas vidas.

Não há nada de errado em desejar dividir momentos com pessoas importantes para nós. Não há nada de errado em dividir nossas vidas e nossas bobagens com estranhos também, se essa é uma necessidade. A questão, que é complexa é, qual a importância que esses tipos de situações e interações com os outros, conhecidos ou não, têm para cada um de nós, ou, o que realmente nos traz felicidade? Os momentos ou a aprovação alheia?

Perdi cinco anos. Perdi amigos queridos. Perdi a minha irmã e o meu cunhado em um acidente e isso me fez valorizar a vida. Não quero mais perder tempo com atividades das quais não terei lembranças,  o pouco tempo de vida que tenho na Terra. É uma luta sair dessa ciranda, mas a vida é uma luta. E, estou viva!



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