Personagens de Ouro Preto -1 - A solitária da Rua Direita

 



Não digo se é verdade ou se é mentira, mas nos tempos de minha adolescência, e já se vão uns 20 anos, embora eu me considere sempre com 18 (é o que digo aos filhos), os jovens não tinham muitas opções a não ser se dirigirem para a Rua Direita, que fica n centro da cidade, e ficarem observando o ir e vir de pessoas. Naquele tempo, quase ninguém tinha telefone em casa, não preciso nem dizer que não existia celular, portanto, se você estivesse interessado em alguém que havia encontrado na Rua Direita, a única forma de manter ou criar uma relação era ir para a mesma rua na semana seguinte, com a esperança de reencontrar a pessoa por quem estivesse interessado. Era um sobe e desse sem sentido, pessoas encostadas pelos carros, nas paredes, em frente ao Bar Barroco, e só. Nós sempre saíamos em grupo, mas havia uma mulher enigmática que sempre saía só. Ela tinha um olhar estranho, e um penteado que lembrava aqueles moldados por rolinhos dos anos 80. Ela subia e descia, solitária, todos os fins de semana, sempre. Andava devagar, não falava com ninguém, não conhecia ninguém. Outro dia, saí com o meu marido no sábado e passei pela Rua Direita. O movimento ainda existe, mas não é o mesmo de 20 anos atrás. Comecei a me lembrar da Solitária da Rua Direita, e pensar sobre aquela vida, aquele ser solitário que  subia e descia todos os fins de semana, sem rumo, em seu rumo arrumado. Pois, eis que a vejo, com os mesmos cabelos retrógrados e alguns quilinhos a mais, subindo e descendo, como sempre fizera há 20 anos. A solitária continua solitária. Senti como se aquela vida não tivesse significado. Imaginei se em algum momento se casara, se algum dia, tivera um companheiro para subir e descer, ou se o tempo apenas havia passado por ela, sem que ela percebesse. Aconteceram tantas coisas em minha vida, e ela continua lá, solitária na Rua Direita.

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