Histórinhas do baú


1 - Eu e os meu amiguinhos brincávamos de queimar plástico na beirada da rua. Já anoitecia, tínhamos entre 6 e 11 anos, todos. Uns colocavam coisas de plástico para se queimarem, outros, cutucavam a plasta encandecente com pedaços de gravetos. Minha irmã estava ao meu lado, brincava distraída com o fogo. Um vizinho abençoado encostou, sem querer, o graveto em chamas na minha perna. Eu me assustei, de repente, lancei um pedaço de plástico em chamas que estava na ponta do meu graveto diretamente sobre a perna de minha irmã, que ficou gritando apavorada, olhando o fogo pegar em sua perna. Quando vi a cena, sem pensar, tirei o plástico de sua perna, nem imaginei que a minha mão poderia ficar queimada. Até hoje ela tem uma marca em forma de bolha na perna, mas poderia ter sido pior.

2 - Eu tinha um vizinho, um ano mais novo que eu e que também se chamava Luciano. Nós gostávamos de conversar sobre assuntos como, os "porquês" da vida, ficávamos cogitando, questionando, pensando. Na casa dele havia um buraco que chamávamos de caverninha. Colocamos uns tijolos para nos sentarmos, uns desenhos para enfeitar. Uma vez, estávamos na caverninha, conversando , altas discussões filosóficas, quando a nossa vizinha começou a nos xingar e a dizer que não poderíamos ficar ali. Como gente grande é maldosa!

3 - Lá em Ipatinga, haviam muitas cigarras, eu e meus amigos adorávamos ficar rodando pelas casas uns dos outros para catá-las e colocá-las dentro de um vidro grande de maionese. Um dia, o amigo do meu irmão, um dos que ele gostava mais, estava numa dessas buscas, andando descalço. Ele avistou uma cigarra em uma pequena árvore, e quando avançou pára pegá-la, pisou em algo, sentou-se e retirou o pedaço de vidro do pé. De repente, talvez assustado pela quantidade de sangue, começou a gritar e a pedir socorro como louco; minha mãe apareceu para socorrê-lo, carregaram-no nos braços e ele não parava de gritar: _Socorro, Fátima, eu vou morrer? Eu vou morrer? Não morreu, mas todos rimos muito depois de tudo.

4 - Ensaiamos o mês todo para a festa junina. Eu fui obrigada a dançar com o meu irmão, me deu raiva, mas, fazer  quê? Estava muito ansiosa, a rua toda estava participando, guloseimas e diversão. No dia, meu pai inventou de ir não sei onde e minha mãe queria ir com ele. Eu emburrei, não gostaria de ir, queria ir á festa junina, claro! Depois de brigar com a minha mãe, ela deixou que eu fosse para a quadrilha. Fui, mas dentro de mim estava a tristeza, não  me concentrei na festa e quando acabou a dança, sai correndo, sem comer nada, na esperança de que daria tempo de irmos ao tal lugar. Acabou que tudo foi ruim e ninguém aproveitou nada.



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