Historinhas do baú - III


1 - Essas são da fase da pindaíba... A situação não estava nada fácil para o nosso lado, sem dinheiro, vivíamos aos trancos e barrancos. Sempre que o meu pai chamava o meu irmão para ir até a venda, a lista de ingredientes era a mesma: Ovo, tomate e banana, ovo, tomate e banana. Nós esperávamos que ele chamasse o nosso irmão para dar-lhe as ordens e falávamos em coro: Já sei, ovo, tomate e banana!

2 - A época era negra mesmo, não tinha papel higiênico em casa e até as revistas e jornais tinham acabado (quem é pobre entende). Para piorar, a minha prima foi usar o banheiro logo lá em casa, e para fazer o número 2! Quando terminou, clamou por papel, e eu clamei por Jesus! Como não tinha, pensei em ligar o chuveiro para que ela se limpasse, mas não tinha energia em casa. Então, pensei, vou esquentar água no fogão, mas depois me lembrei de que o gás tinha acabado de acabar... Foi o cúmulo da pobreza! A solução foi ir correndo ate a casa da minha tia e pedir um pedaço de papel higiênico... Dureza!

3 - Mesmo na pindaíba, tínhamos duas cadelas, nem me lembro de onde tinham vindo. Uma era a Suzy, meio pequenez, (que estava na moda, na época) e a outra era Lana, uma grandona branca com algumas poucas manchas marrons. É estranho como até os animais tem gênios diferentes; Suzy era delicada e arisca, Lana era brincalhona e folgada. Um dia, eu cheguei em casa e quando abri a porta, vi Suzy correndo desesperada pra fora. Imaginei que ela devia ter deitado na cama e fui lá ver. Quando cheguei, estava aquela cadela imensa e imunda deitada em cima da cama, toda suja e cheia de carrapichos; ela só virou a cabeça e continuou a olhar para mim, como se nada tivesse acontecendo! Espantei a danada, mas depois achei graça.

4 - Eu devia ter uns 11 anos quando me apaixonei por um vizinho. Estávamos todos morando na casa da minha avó. Meu irmão e meu tio, que tinha a minha idade, muito gentilmente, se propuseram a me ajudar e pediram que eu escrevesse uma cartinha de amor, para que eles pudessem enviar para o tal menino. Eu escrevi a cartinha, com todas aquelas bobagens que criança gosta e entreguei aos dois para que levassem. Quando voltaram, estavam com expressões muito estranhas, e quando perguntei o que o menino tinha dito, eles disseram que o menino queria me ver e que era pra que eu escrevesse outra carta. Depois de algum tempo, descobri que eles nem haviam entregado a carta, haviam lido e rido muito de mim pelas costas... Demônios!

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