Conselhos de amor - II - Metade da laranja


Metade da laranja, era essa a concepção que tinha de amor em minha adolescência, carregava comigo a certeza absoluta de que eu precisava de uma metade para me completar, que nasci faltando. Nas supostas metades que encontrava pelo caminho eu depositava todas as minhas expectativas e ideais, mesmo que elas não tivessem a menor noção do que eu esparava delas. Como era de se imaginar, nunca encontrei a minha metade, estou faltando ainda.

Como diria Freud, esse sentimento de que falta algo é inerente ao ser humano, estará presente do início ao fim de nossas vidas, estaremos sempre buscando a completude, e quando esse "algo" que supunhamos nos completar for alcançado, outro tomará o seu lugar. Por isso o ser humano é tão atormentado em suas questões existênciais sem respostas,  somos inclompletos e precisamos prencher o buraco com teorias, suposições, desejos, ideais!

Qual ideal é mais lindo e repleto de satisfações que o amor idealizado? Que sentimento pode transformar a vida de uma pessoa e fazê-la girar, revirar, transmutar? Qual situação nos faz sonhar e sair de nós mesmo, esquecer nossas questões existenciais e pensar só em nós  no outro? Ah, o amor!

É de verdade? É magia? É ilusão? É fantasia? É um artifício químico de nosso organismo para garantir a procriação? É tudo isso ou nada ? Não sei... Só sei que esse sentimento, por alguns momentos ao longo de nossas vidas nos fazem ficar tão cheios  que compensa todos os sofrimentos, ao menos naqueles momentos, neles, estamos completos.

Como ser completo por mais tempo? existiria uma fórmula para a saciedade permanente? Seria esse o caminho que devemos buscar para nos sentirmos satisfeitos? 

Sinto, se Deus me desse essas respostas, eu me tornaria inteira e não estaria aqui escrevendo este pequeno texto, por isso, desculpem -me por não poder deixar nenhuma pista da completude, quem me dera!  Sou apenas uma metade...Ou talvez eu seja apenas um gomo da laranja, ou seja uma laranja inteira que precisa ser descascada e saboreada, eu não sei... O que sei, o que sinto, é que todo o ser humano precisa de outros seres humanos, e ás vezes, precisa de um em especial, em momentos diferentes; sei que quando fecho os olhos à noite, espero que no dia seguinte eu não sinta mais faltas, que encontre muitos gominhos de laranjas, ou encontre alguém que adore se deliciar com uma laranja inteirinha e quase madura. Espero preencher só um pedacinho do buraquinho do meu peito, espero esquecer por alguns instantes que ainda falta.



Comentários

  1. Talvez não possamos mesmo, nunca, nos sentirmos completos, e esse amor do qual você fala, talvez não seja ele a metade que buscamos, mas alguém para caminhar conosco, incansavelmente, em busca das faltas e dos vazios que nos rondam. Talvez, talvez...Que texto mais lindo, Lu. Adorei. Beijos.

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